Lula diz que entregará BR-319, em construção desde 1968
Obras na via estão suspensas desde o fim de julho deste ano, por falta de controle do desmatamento na região
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou nesta terça-feira (10) que vai priorizar a entrega “definitiva” da BR-319, a principal via de ligação terrestre de Amazonas e Rondônia ao resto do país. A rodovia começou a ser construída em 1968 e nunca foi concluída. O empreendimento conecta as capitas Manaus (AM) e Porto Velho (RO), tem 885 km de extensão e compreende 13 municípios, 42 unidades de conservação e 69 terras indígenas, segundo organizações ambientais. As obras na BR-319 estão suspensas desde o fim de julho deste ano, após decisão da Justiça Federal do Amazonas, por falta de controle do desmatamento na região.
“Essa estrada agora vai começar a ser feita. Enquanto esses 52 km vão ser construídos, nós vamos preparar o estado, para que a gente possa entregar definitivamente a ligação entre Manaus e Porto Velho sem causar prejuízos. Porque nós temos consciência de que, enquanto o rio estava navegável, cheio, a rodovia não tinha a importância que tem, enquanto o rio Madeira estava vivo. E nós não podemos deixar duas capitais isoladas”, destacou o presidente, em visita a Manaquiri (a 60 quilômetros de Manaus). “Mas nós vamos fazer com a maior responsabilidade e queremos construir uma parceria de verdade”, acrescentou Lula.
O trecho citado por Lula diz respeito a um pedaço do chamado Trecho do Meio da rodovia, o primeiro “fatiado” para concretizar a pavimentação. O contrato para a obra foi assinado em dezembro de 2020, com base em um termo de compromisso de 2007. O Trecho do Meio tem 405 km de extensão e é considerado um dos pontos mais sensíveis ambientalmente. Em 2022, o governo federal autorizou licença prévia para a reconstrução e asfaltamento desse trecho — obra suspensa desde julho.
“É preciso parar com essa história de achar que a companheira Marina [Silva, ministra do Meio Ambiente] não quer construir a BR-319. Ela foi construída nos anos 1960, foi abandonada por desleixo não sei de quem é, hoje, a rodovia tem uma parte para cá que funciona, uma parte para lá que funciona e no meio 400 km inutilizados. Quero dizer para o governador, nós vamos chamar vocês para discutir essa BR-319. Nós queremos pactuar com o estado e a Federação. Vamos ter que garantir que nós não vamos permitir o desmatamento e a grilagem de terra próximo a rodovias, como é habitual acontecer neste país”, completou o presidente.
Em novembro de 2023, o governo federal criou um grupo de trabalho para discutir a situação da BR-319. Órgãos federais, como o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), alertam para o risco de o desmatamento na região crescer com a conclusão da rodovia, que pretende atravessar grande trecho de mata intocada da Amazônia. Comunidades indígenas afirmam não ter sido consultadas no processo que liberou a pavimentação do Trecho do Meio, em 2022.