HPV é responsável por 70% dos casos de câncer de colo de útero
O famoso ditado popular já alerta: “Prevenir é melhor que remediar”. A prevenção é o caminho mais seguro para evitar inúmeras doenças, entre elas, as Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). Um exemplo muito comum é a provocada pelo Papilomavírus Humano, mais conhecido como HPV. Ele possui mais de 200 tipos e dois deles (16 e 18) são responsáveis por 70% dos casos de câncer de colo de útero, que é o terceiro tumor mais frequente na população feminina e a quarta causa de morte de mulheres por câncer, de acordo com o Ministério da Saúde.
Pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a população conta com serviços que auxiliam desde a prevenção, com atendimentos ambulatoriais e vacinas, até o tratamento da doença. E a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), por meio de seus hospitais universitários, não só contribui com a assistência oferecida, mas também reforça a importância da informação por meio dos seus especialistas.
No dia 4 de março foi comemorado o dia Internacional de Conscientização sobre o HPV e um tema tão relevante precisa chegar às Marias e aos Joãos espalhados pelo Brasil. Em São Luís, no Maranhão, a ginecologista e obstetra, especialista em Patologia Cervical, do Hospital Universitário da UFMA (HU-UFMA), Geórgia Mouzinho, pontua que o HPV é um vírus de transmissão sexual, que afeta homens e mulheres e é responsável pela maioria dos casos de câncer de colo de útero.
“No Maranhão, esse câncer é o segundo tipo que mais afeta as mulheres, perdendo apenas para o câncer de mama. Alguns estudos já mostram associação do HPV ao câncer de pênis e já está comprovado o aumento dos casos de câncer de reto por HPV, principalmente na população homoafetiva masculina”, explicou.
A especialista acrescenta que os mais de 200 tipos de HPV são classificados como oncogênicos (que causam câncer) e não oncogênicos (aqueles que podem causar verrugas), sendo que é possível estar infectado com mais de um tipo de HPV.
É preciso estar alerta. O HPV é silencioso
“A infecção do vírus é silenciosa, ou seja, não produz sintomas. A média de tempo entre a infecção e o surgimento da primeira lesão precursora do câncer é de 10 anos. Por isso é tão importante fazer o exame de prevenção ao câncer de colo de útero, de forma anual, a partir dos 25 anos. Esse exame, chamado preventivo ou papanicolau, rastreia as lesões precursoras do câncer. Uma vez diagnosticada, a paciente será tratada de acordo com o tipo de lesão”, afirmou Geórgia.
Para tanto, a ginecologista do Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados (HU-UFGD), Isabela Querido Lopes, acrescenta que o diagnóstico pode ser feito através de biópsia quando há lesão visível a olho nu (como as verrugas) ou microscopicamente através do exame de colposcopia, quando indicado. Esse último é um exame ginecológico que utiliza um aparelho com lentes de aumento para melhor avaliação da região em busca de lesões não identificadas a olho nu.
“Na mulher há um ambiente mais favorável para o desenvolvimento e multiplicação do vírus, sendo mais comum complicações relacionadas a ela”, enfatizou.
70% das pessoas sexualmente ativas têm contato com o vírus pelo menos uma vez
Em Niterói, no Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap-UFF), Susana Aidé, que atua no Serviço de Patologia do Trato Genital Inferior e é professora Associada da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense, acrescenta que a história natural da infecção pelo HPV se inicia na adolescência/adulto jovem (períodos do início da atividade sexual), época em que se observa o principal pico da infecção viral.
Segundo ela, em torno de 70% das pessoas sexualmente ativas têm contato com o vírus pelo menos uma vez em suas vidas e destas, em torno de 90% eliminam o vírus de 1 a 3 anos. “Isto é, o próprio sistema imunológico destrói e elimina o vírus (o que chamamos de infecção transitória).
Segundo Susana, “aqueles indivíduos que mantêm a infecção de forma persistente, em torno de 10%, têm maior chance de desenvolverem lesões pré-malignas e cânceres. Ainda na infecção persistente, o vírus pode permanecer em sua forma latente sem causar doenças e, em dado momento, reativar e causar enfermidades”, enfatizou.
Susana reforça que não há tratamento para a eliminação do vírus. Os hábitos de vida saudáveis mantêm um sistema imunológico eficaz para eliminação viral. “Quando a infecção pelo HPV desenvolve as doenças, as tratamos com cirurgias, métodos destrutivos e uso de medicamentos tópicos, a depender da localização, extensão, estado imunológico, se grávida ou não. Estudos recentes mostram que a vacinação nas pessoas que trataram uma doença HPV têm menor chance de recidivas”, pontuou.
Principal forma de prevenção é a vacinação
E sabe onde a vacina pode ser encontrada? Ela é oferecida pelo SUS por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI), sendo disponibilizada a quadrivalente que contém partículas virais dos tipos 6, 11, 16 e 18.
A professora enfatiza que para que haja um impacto epidemiológico a curto prazo (prevenção da infecção viral e verrugas genitais), médio prazo (prevenção das lesões precursoras) e a longo prazo (redução dos casos de cânceres), como já se enxerga em países como Austrália, Canadá e Reino Unido, “é preciso alcançar e manter uma alta cobertura vacinal, acima de 90%, da população alvo”.
Susana alerta que a vacina está disponível para meninas e meninos de 9-14 anos com esquema de duas doses (0-6 meses); para pessoas com HIV, transplantados de órgãos sólidos ou transplantados de medula óssea, pacientes oncológicos e imunossuprimidos com esquema de três doses (0, 2 e 6 meses); e para pessoas vítimas de violência sexual, sendo duas doses (0-6 meses) para 9-14 anos e três doses (0-2-6 meses) para pessoas de 15 a 45 anos de idade.