Falta de moradia em Manaus avança na gestão David Almeida
A Prefeitura de Manaus também acumula suspeitas de abuso de poder e até doação de apartamento para parentes da filha do prefeito
Mesmo com empréstimo bilionário e promessas às vésperas da eleição, atual gestão não conseguiu enfrentar o problema da falta de moradia em Manaus. Sem investimentos na área de habitação há 3 anos, a falta de moradia para a população mais pobre dispara e já alcança mais de 119 mil famílias, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Cerca de 40 mil famílias com renda domiciliar de até três salários mínimos gastam mais de 30% da renda com aluguel; e 29 mil vivem em áreas com risco de alagamentos, deslizamentos ou sem saneamento básico.
Além disso, o déficit habitacional em Manaus avançou na mesma proporção que as ocupações irregulares, que tomaram conta de áreas verdes e de risco, agravando outros problemas da cidade, como mobilidade urbana e saneamento deficiente. Investir em habitação era uma promessa da campanha de 2020, mas só agora em 2024, às vésperas das eleições, é que o atual prefeito David Almeida (Avante) despertou para o assunto.
Há 4 anos, a promessa da atual gestão era transformar casas abandonadas em moradias populares, aproveitar espaços ociosos em prédios comerciais, entregar títulos de propriedade (terra, terrenos, casas e apartamentos) e reformar casas de famílias de baixa renda. O programa Casa Manauara prometia reformar mil casas até o fim de 2023. Até junho deste ano, tinha entregado apenas 45. Antes chamado de Morar Melhor, o programa mudou de nome em fevereiro de 2024, e as regras para selecionar os beneficiários são guardadas a sete chaves pela Prefeitura.
Desde 2021, quando a atual gestão assumiu a Prefeitura de Manaus, já foram contraídos mais de R$ 1 bilhão em empréstimos para a habitação. Os recursos foram liberados, mas nenhum projeto nessa área foi entregue, nem a administração municipal prestou contas sobre o que fez com a verba.
Em 37 anos, a capital de Manaus ganhou 14 mil hectares de favela. É a segunda capital mais favelizada do País e só perde pára Belém, segundo o Mapa da Desigualdade, do primeiro estudo realizado pelo Instituto Cidades Sustentáveis. De acordo com o Serviço Geológico do Brasil, Manaus possui mais de 600 áreas de risco, a maioria nas zonas norte e leste, as mais populosas. As áreas geralmente têm construções irregulares em locais com solo fragilizado, por conta da retirada da cobertura vegetal, e margens de igarapés.
Foi numa dessas áreas de risco, no bairro Jorge Teixeira, na zona Leste, que um dia de chuva terminou em tragédia, com oito mortes. O deslizamento de terra na Comunidade Pingo D’Água atingiu 20 casas em 12 de março de 2023. Demorou quase um ano para que as obras começassem a ser feitas, com recursos do governo federal.
Em junho deste ano, o Comitê de Combate à Corrupção ao Ministério Público do Estado (MPE) a abertura de uma investigação contra David Almeida e o secretário de habitação Jesus Alves por fazerem inscrições populares para vender terrenos na zona Norte de Manaus. Para o Comitê, o prefeito cometeu abuso de poder político e econômico, de olho na eleição de outubro.
Em 2021, o Ministério Público Federal (MPF) abriu investigação após denúncias de que as casas do Residencial Manauara haviam sido entregues para parentes de Fernanda Hariel, filha do prefeito.
No último dia 12 de agosto, às vésperas do início da campanha, David assinou um contrato com a Caixa Econômica Federal para construir 960 habitações pelo programa Minha Casa, Minha Vida, com recursos do governo federal. As obras não têm previsão de início.