‘Expedição Boto da Amazônia’ apresenta resultado de pesquisa em Tefé e Coari
Pela primeira vez, os estudiosos puderem ler de maneira aprofundada dois lagos após a seca extrema de 2023
A Sea Shepherd Brasil, uma organização não governamental de proteção à vida aquática, em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), finaliza nesta quinta-feira (2) a quinta missão da ‘Expedição Boto da Amazônia’ uma pesquisa científica que tem como objetivo determinar a saúde populacional e densidade de duas espécies de botos amazônicos, o boto-vermelho ou boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis) e o tucuxi (Sotalia fluviatilis).
Pela primeira vez, os estudiosos puderem ler de maneira aprofundada os dois lagos onde ocorreram a crise do ano anterior. A embarcação percorreu os 137 km do Tefé, onde pôde identificar 124 botos, 99 tucuxis, cerca de 9 botos e 7 tucuxis a cada 10 km. Já no Coari, foram navegados 127,6 km, nos quais se avistaram 53 botos e 162 tucuxis, cerca de 4,15 botos e 13 tucuxis a cada 10 km. Uma fêmea tucuxi grávida foi encontrada morta.
“Precisamos urgentemente preservar esses sentinelas da biodiversidade da bacia Amazônica para mantê-la resiliente e saudável para um futuro incerto. Ter nesta viagem testemunhado durante a expedição em primeira mão a morte de uma fêmea de tucuxi com filhote, também fêmea, nos gera muita comoção em nossa preocupação na recuperação destes animais. A perda de duas fêmeas significa perder toda uma carga reprodutiva crucial para a recuperação das espécies. Cada contagem dos animais vivos é um voto de esperança para que estas espécies sobrevivam um futuro cada vez mais desafiador”, afirma Nathalie Gil, presidente da SeaShepherdBrasil.
O estudo desses golfinhos, classificados como ameaçados de extinção, acontece desde 2021, no entanto, após a seca extrema de 2023, a operação possui um objetivo prioritário: verificar o quanto a mortalidade de botos durante a estiagem do anopassadoafetou a densidade populacional das espécies.
Esta fase da campanha contou com um total de 10 cientistas experientes em técnicas de monitoramento e outras investigações, incluindo a renomada cientista Dr.ᵃ Vera da Silva, pesquisadora do INPA desde 1981, Dr.ᵃ Sannie Brum, líder do INPA na operação embarcada, além de uma tripulação total de 22 pessoas, para uma imersão na bacia fluvial da Amazônia. Por cerca de 3 semanas, os ambientalistas estiveram a bordo de um navio que percorreu mais de dois mil quilômetros pelos rios amazônicos, incluindo o Solimões, lagos Tefé e Coari, Manacapuru, Badajós, e RDS Mamirauá.
“Agora, essa expedição é mais necessária do que nunca. Com as informações obtidas poderemos colocar uma luz em como secas extremas podem ter afetado as populações desses golfinhos em diferentes pontos da bacia amazônica, e em lugares que ainda não tivemos a chance de investigar”, afirma Vera da Silva.
Sabe-se que além da pesca incidental, poluição e perda de habitat, a maior ameaça aos botos têm sido definitivamente sua morte para uso como isca na pesca de um peixe bagre chamado piracatinga. Mas, desta vez, as preocupações da “Expedição Boto da Amazônia” da Sea Shepherd Brasil se estendem a uma nova ameaça imprevisível que se apresenta com a intensificação das mudanças climáticas. Da seca histórica que assolou a Amazônia de setembro a novembro de 2023, matando milhares de peixes e 330 botos, segundo contagem final feita pelo Instituto Mamirauá e da UFAM de Coari, restaram as seguintes dúvidas: qual o impacto dessa mortandade para as populações dessas duas espécies já ameaçadas de extinção? E quanto à pesca ilegal, a moratória foi suficiente para frear a criminalidade rio adentro, ou maiores medidas de fiscalização seguem sendo necessárias? São perguntas cujas respostas a expedição buscou encontrar.
“Por 4 anos, estivemos focados em entender como o boto estava ameaçado pela ação humana, dentre outros fatores, principalmente pela caça do animal para ser usado como isca. Comavitória da proibição permanente da pesca da piracatinga, vem tambémumanovaameaça, talvezamaisfataldetodas: amortedosanimais por ações naturais, que serão cada vez mais frequentes, e também pela interação forçada com humanos em rios mais estreitos, devido à seca extrema”, afirma Nathalie Gil, presidente da Sea Shepherd Brasil.
Além do monitoramento, a expedição também contou com pesquisa de microplásticos nos rios Amazônicos, uma parceria com a Universidade Federal do Pará, também visitas de educação ambiental em comunidades locais, engajamento com municípios, e coleta de resíduos na cidade de Anori para logística reversa.
Nesta quinta-feira (2), a Sea Shepherd Brasil irá realizar uma entrevista coletiva para a imprensa para compartilhar com os jornalistas as observações preliminares coletadas na expedição. O evento acontecerá às 10h do horário de Manaus (11 h horário de Brasília) no Barco Blackwater Explorer, Balsa Amarela, em Manaus Moderna, e também será transmitido via Zoom para os interessados pré-inscritos.