Casa bagunçada pode afetar saúde mental; veja como deixar tudo em ordem
Você já sentiu que a bagunça da sua casa acompanha seu momento de vida? Segundo especialistas consultados por VivaBem, os dois fatores realmente conversam.
“A bagunça externa costuma ter relação com a bagunça interna da pessoa. É mais comum que as desordens de dentro (do inconsciente, subjetivas) causem as de fora, mas o contrário também é possível”, informa Larissa Lauriano, psiquiatra e professora da Afya Educação Médica, de Fortaleza.
Por isso, é importante reconhecer quando a bagunça está fugindo ao controle e prejudicando diversas esferas da vida. A seguir, veja os principais sinais de que a desordem está afetando sua saúde mental.
Dificuldade de foco: seu posto de trabalho é um caos e você sofre com excesso de pensamentos sem sentido, tarefas em atraso e erros atrás de erros? Desconfie. É quase impossível ser produtivo em um cenário com tantos estímulos visuais. O cérebro fica sobrecarregado, o que dificulta concentração, raciocínio lógico, criatividade e tomada de decisões.
A desordem prejudica qualquer tipo de tarefa ou profissão, em especial as que exigem atenção concentrada, como motoristas, pilotos, controladores de voo, pesquisadores, engenheiros.
Roselene Espírito Santo Wagner, neuropsicóloga pela Universidade Estácio de Sá (RJ)
Sentimento de culpa: se já sentimos desconforto em ver aqueles programas de TV sobre acumuladores ou casas de pernas para o ar, saiba que para quem vive num lugar desses pode ser pior. A pessoa muitas vezes não percebe, mas nota algo errado em si, como culpa, ou impotência, que indicam questões pendentes, não cumpridas ou inacabadas.
Baixa autoestima: não cuidar do que é seu pode favorecer comportamentos negligentes também com a própria aparência, higiene e alimentação, o que consequentemente leva à baixa autoestima. Soma-se a isso críticas, afastamento de pessoas, percepção de não pertencimento e falta de prazer e conforto em estar no próprio ambiente.
Lapsos de memória: a desordem também é uma causa comum de esquecimento. Quando estamos distraídos ou confusos devido a tantas interferências espaciais, nossas ações são dificultadas, inclusive para se lembrar de detalhes. “Podemos ter perdas ou não nos recordar onde guardamos algo específico, o que tínhamos que fazer, horários agendados”, afirma Henrique Bottura, psiquiatra e diretor clínico do Instituto de Psiquiatria Paulista.
Falta de iniciativa: quando se tem os outros para dar cabo da própria desorganização, o indivíduo deixa de desenvolver habilidades importantes, especialmente para a vida adulta. Se é um filho que não colabora com nada, vai crescer dependente dos pais e não se impor no futuro, agindo de forma preguiçosa, irresponsável ou muito submissa. “Na adolescência, ainda estamos aprendendo a nos construir como pessoas, escolhendo as ‘máscaras sociais’ que iremos usar. Deixar tudo espalhado e, ao mesmo tempo à mão, parece que facilita a busca por não saber ainda administrar o tempo, aceitar regras, ter disciplina. Porém, cabe aos pais ou responsáveis criarem limites”, ressalta Wagner.
Alterações de humor: tralhas por todo lado nos afetam como uma overdose de informação, ativando muitas áreas cerebrais ao mesmo tempo, e impedindo o relaxamento, necessário de dia e de noite, para um sono reparador. Se isso então for mantido, são liberados de forma crônica hormônios relacionados à ansiedade e ao estresse, como cortisol e adrenalina.
Desesperança: quando o que é nosso está uma confusão só, a ponto de não visualizarmos solução, sentimos cansaço mental, que pode se manifestar também no físico, além de sintomas como perda de interesse, apatia, tristeza, frustração. Se nada for feito, isso pode aumentar o nível de incertezas, sobrecargas e mesmo predispor uma depressão.
Como colocar tudo em ordem
Se a bagunça interfere na saúde mental, a organização também, mas de forma positiva. Ela contribui para o humor, a produtividade, a memória, garantindo ainda sensações emocionais de alívio, bem-estar, eficiência, segurança e tranquilidade.
Para ajudar você a se tornar alguém mais organizado, aqui vão algumas dicas:
Estabeleça metas e rotinas de limpeza e organização, começando por pequenas tarefas e espaços, aos poucos. Não tente mudar tudo de uma vez, pois isso pode ser frustrante e desmotivador;
Para não se perder, anote tudo em listas ou agendas e divida as tarefas em categorias, como urgente, importante, rotineiro ou opcional, e defina prazos;
Evite deixar coisas pela metade ou acumuladas. Sempre que terminar uma tarefa, guarde o que usou e limpe o espaço;
Mantenha os seus pertences em lugares específicos e fáceis de encontrar. Para facilitar, use caixas, cestos, pastas, etiquetas e separe por tipo, cor, tamanho, frequência de uso;
Aprenda a delegar tarefas e pedir colaboração dos outros, para não se sobrecarregar;
Descarte, doa ou venda o que não é mais necessário, evitando acúmulo, inclusive de sentimentos negativos, apego, ou relacionados a traumas, lutos;
Use a tecnologia a seu favor: no celular, lembretes, aplicativos de organização e alarmes sonoros ajudam a administrar e executar tarefas.
Transtornos relacionados à bagunça
Do ponto de vista da saúde mental, ser bagunceiro pode estar relacionado a alguns fatores, como:
Hábitos de consumo excessivos ou compulsivos, que levam ao acúmulo de coisas desnecessárias ou inúteis;
Ausência de limites estabelecidos desde a infância, pelos pais ou cuidadores;
Traços de personalidade, principalmente quando se é muito impulsivo;
Adolescência, que é uma fase de profundas, confusas e intensas transformações psíquicas;
Transtornos, como psicóticos, obsessivo-compulsivo (TOC), de acumulação, depressão, déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), ansiedade.
Busque ajuda profissional para investigar e tratar possíveis problemas de saúde mental que estejam causando ou agravando desordens externas, ou se manifestando como sofrimentos e prejuízos pessoais e profissionais por causa delas.
Fonte: UOL