Saiba porque indígenas de Manaus participaram da transmissão do Oscar

A aldeia Inhaã-bé foi a grande escolhida para representar os povos originários

Em todo o país, pessoas se reuniram para torcer pelo Brasil na premiação do Oscar 2025 e, no Amazonas, a aldeia Inhaã-bé foi a grande escolhida para representar os povos originários durante a transmissão ao vivo do evento na noite deste domingo (2). Eunice Paiva, protagonista no Filme Ainda Estou Aqui, estudou Direito, e se tornou advogada e ativista em prol das causas indígenas, dando voz a pessoas que sofreram impactos significativos durante e após a ditadura.

Após contribuírem como protagonistas da sétima arte amazonense ao inaugurarem a primeira sala de cinema em território indígena no Brasil, o Cine Aldeia, indígenas da aldeia Inhaã-bé, localizada na região do Tarumã-açú, em Manaus, apostaram em rituais para emanar boas energias ao filme “Ainda Estou Aqui”, além de exibirem o filme “Central do Brasil” e toda programação do Oscar.

Para Thaís Kokama, organizadora e autora do projeto “Cine Aldeia”, a oportunidade de representar todos os povos indígenas durante a transmissão do Oscar foi motivo de muito orgulho.

“Foi, sem dúvida, um momento que ficará marcado em toda a minha vida e na vida dos parentes que estavam aqui, torcendo e emanando boas energias ao filme, e também à memória de Eunice Paiva, mulher e advogada, sendo uma das pioneiras na luta por nossas causas indígenas. Representar todos os povos originários foi importante para nós e para todo o país. Sinto muito orgulho disso – ganhamos o Oscar, gente”, destacou Thaís.

Importância para a causa indígena

O filme “Ainda Estou Aqui” traz uma mensagem forte sobre a resistência e a luta de uma família durante a ditadura militar, destacando uma das principais personagens, Eunice Paiva, que decide estudar Direito, tornando-se advogada e ativista em prol das causas indígenas, dando voz a pessoas que sofreram impactos significativos durante e após a ditadura.

Quem foi Eunice Paiva?

Maria Lucrécia Eunice Facciolla Paiva (1929-2018) foi uma das pioneiras na luta pelos direitos dos povos indígenas no Brasil. Em 1976, aos 47 anos, ela se formou em Direito e contribuiu de forma significativa para a elaboração do capítulo da Constituição Federal de 1988, que trata sobre os direitos territoriais, o reconhecimento à diversidade étnica e cultural e à autonomia e autodeterminação dos povos indígenas. Eunice também atuou junto à Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) na década de 1980, tendo papel central na demarcação das terras Krikati e Awá, no Maranhão, e Xikrin do Rio Cateté, no Pará.

A história de Eunice Paiva ganhou os holofotes no Brasil e no mundo por meio do filme “Ainda Estou Aqui”, que rendeu à Fernanda Torres a conquista inédita do Globo de Ouro para o Brasil na categoria Melhor Atriz, e no Oscar 2025, o prêmio na categoria Melhor Filme Internacional.

Mãe de cinco filhos, Eunice Paiva se notabilizou como um símbolo de resistência e enfrentamento à ditadura militar no Brasil, que teve início em abril de 1964 e terminou em março de 1985. O período é considerado um dos mais sombrios da história do país, marcado por perseguições a opositores, censura e violações de direitos humanos, tornando pessoas indígenas ainda mais vulneráveis em todo território brasileiro.

Cine Aldeia

O “Cine Aldeia” é a primeira sala de cinema em território indígena no país. O espaço surgiu em 2019, com exibições de filmes para crianças na Aldeia Inhaã-bé e ao longo dos últimos três anos, a aldeia recebeu atividades e oficinas de cinema, além de ter sido utilizada como set de filmagens para produções nacionais e internacionais, impulsionando e motivando a comunidade nas práticas cinematográficas.

O “Cine Aldeia” foi inaugurado com nova estrutura em fevereiro de 2025, após ser contemplado pelo edital da Lei Paulo Gustavo, vinculado à Prefeitura de Manaus, recebendo adaptações e a aquisição de equipamentos para exibições, mostras, festivais e atividades voltadas para a produção audiovisual, com o objetivo de impulsionar a cadeia cultural da sétima arte, beneficiando indígenas e comunidades locais.

A sala de cinema foi construída no formato de uma oca e conta com poltronas feitas de pneus retirados do lixo e placas solares, mantendo o respeito pela natureza e fazendo uso de materiais recicláveis. Isso a torna uma das primeiras salas de cinema do país ecologicamente correta e movidas a energia limpa.

Foto: Tácio Melo

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